Nárcia Kelly Alves da Silva*
Num mundo marcado pela crise da democracia representativa, o Dia Internacional do Cooperativismo, celebrado em 1º de julho, foi uma oportunidade para refletirmos sobre como essa filosofia pode contribuir para a superação de modelos que já não atendem mais aos anseios sociais e às necessidades da humanidade. Como nós, políticos, podemos contribuir para o fortalecimento da democracia nesse panorama onde tantas lideranças parecem se preocupar muito mais com seus interesses pessoais do que com a resolução das grandes demandas sociais?
Trago do meu berço cooperativista algumas reflexões sobre como podemos enfrentar esse e outros desafios. Em 2008, quando fui escolhida, em votação secreta, pela comunidade do Cará para ser a candidata da região a vereadora nas eleições municipais, fiquei receosa de deixar o cooperativismo, onde estava tão feliz, para ingressar na política, com a qual eu estava muito decepcionada, como boa parte dos brasileiros até hoje está. Foi então que eu percebi que não precisava deixar o cooperativismo, pelo contrário: eu poderia levá-lo para a política. Assim tenho feito, tanto no mandato legislativo quanto nos mandatos executivos que exerci desde então.
Mas como o cooperativismo faz a diferença na política? Em primeiro lugar, porque a gestão democrática está na sua essência. Numa realidade marcada por uma profunda crise da democracia representativa, o exercício da liderança política baseado nos princípios cooperativistas contribui para que o povo recupere a confiança nos seus governantes. Os gestores cooperativistas têm sempre em mente sua missão de contribuir para a melhoria das condições de trabalho, produção, geração e distribuição de riquezas entre todos os integrantes da cooperativa. Se os políticos voltam a atuar com base nesses compromissos, as mazelas sociais vão, aos poucos, sendo solucionadas e o povo volta a enxergar a política como campo de transformação social, e não como um ambiente de corrupção.
Além disso, é fundamental que os políticos voltem a ouvir o povo. Que obras e projetos, de fato, farão a diferença nas vidas das pessoas? Numa sociedade tão desigual quanto ainda é a sociedade brasileira, as lideranças políticas precisam se lembrar de que, assim como na cooperativa todas as pessoas têm direito de manifestarem suas opiniões e conquistarem melhores condições de vida, os diferentes grupos sociais precisam ser igualmente ouvidos, independente de seu poder econômico, e todos devem ser inspirados a contribuir para um quadro de maior justiça social.
Que o cooperativismo, esse modelo que mudou a minha vida e a de tantas pessoas mundo afora, se fortaleça cada vez mais e contribua para a superação dos desafios que ainda enfrentamos no Brasil. Afinal, como sempre dizemos: é cooperando que se transforma!
*Cooperativista, política, atual prefeita de Bela Vista de Goiás e palestrante.