A comunicação é uma das diretrizes estratégicas do cooperativismo brasileiro. Em Goiás, o Sistema OCB/GO também definiu essa área como uma prioridade a ser desenvolvida. Em uma aposta pioneira para unir e fortalecer a comunicação cooperativista no estado, a entidade implementou uma ação estratégica: a criação de uma rede de comunicadores composta por profissionais que atuam nas cooperativas locais. Esse projeto resultou nos Agentes de Desenvolvimento da Comunicação Coop (ADCs), grupo coordenado pelo departamento de Comunicação do Sistema OCB/GO. O objetivo é impulsionar a divulgação de histórias, valores e impactos positivos do setor.
Em outubro, boa parte dos integrantes da rede se reuniu durante a 10ª edição do Encontro de Comunicadores de Cooperativas de Goiás (Coomunica). O evento, organizado pelo Sistema OCB/GO, em Goiânia, reuniu os profissionais do setor para debater o papel da inovação e da Inteligência Artificial (IA) na comunicação cooperativista. O destaque foi a palestra da futurista Martha Gabriel (ver entrevista abaixo).
O gerente de marketing do SESCOOP/GO, Fábio Salazar, destaca os principais desafios que essa rede de comunicadores tem pela frente. “Internamente, precisamos aumentar o interesse dos cooperados pelas suas cooperativas e dar visibilidade ao que elas produzem. Para o público externo, o desafio é melhorar o entendimento do modelo de negócios e abrir novos mercados”, afirmou.
Por meio da rede de comunicadores, o departamento de Comunicação do Sistema OCB/GO vem conseguindo fortalecer o vínculo com aqueles que produzem conteúdo informativo nas cooperativas. “Estabelecemos uma estratégia que começa com a identificação do fato dentro da cooperativa. Esse conteúdo, com potencial noticioso, é encaminhado à coordenação de jornalismo do Sistema OCB/GO, que avalia a melhor forma de divulgá-lo e em quais canais”, explicou.
Além do Portal Goiás Cooperativo, que publica notícias diariamente, o Sistema OCB/GO conta com uma newsletter enviada duas vezes por semana, um boletim semanal resumido às sextas-feiras, e está presente nas principais redes sociais. Recentemente, também foi lançado um canal de notícias no WhatsApp.
Atualmente, o Sistema OCB/GO está desenvolvendo pautas exclusivas e especiais para oferecer à imprensa, além de firmar parcerias com veículos de mídia. “Uma dessas parcerias é um blog de notícias exclusivo no Portal G1, onde publicamos novidades sobre as cooperativas e o sistema cooperativista goiano”, concluiu Fábio.
Rede
Entre os profissionais que integram a rede de comunicadores está Yohanna Ferreira, coordenadora de marketing da Complem. Jornalista de formação, com MBA em Gestão de Marketing Estratégico pela ESPM, Yohanna está há três anos e meio na cooperativa e, há quase um ano, atua como coordenadora de marketing. Segundo ela, seu papel envolve a criação de campanhas de divulgação, além de desenvolver ações de marketing voltadas tanto para as marcas quanto para a área comercial.
Yohanna relata que sua primeira experiência com o cooperativismo foi na Complem, e, desde então, percebeu que um dos maiores desafios da comunicação cooperativista é conseguir transmitir a essência e os benefícios do cooperativismo para pessoas que não fazem parte do setor. “O maior desafio é chegar a pessoas fora da ‘bolha’ e fazê-las entender a importância de fazer parte desse movimento”, afirma.
Outra integrante da rede é Michelle Maria de Araújo Pires, formada em designer gráfico e marketing, que trabalha como analista de comunicação no Sicoob Credi-Rural. Michelle atua na cooperativa desde 2022 e acredita que comunicar o cooperativismo para o público externo é fundamental. “Fazer as pessoas conhecerem e entenderem o que é o cooperativismo é um dos maiores desafios que enfrentamos”. Segundo ela, sua atuação envolve desde a criação até a divulgação de conteúdos relacionados à cooperativa, como o planejamento de redes sociais e eventos.
Para Michelle, a rede de comunicadores é fundamental para fortalecer a comunicação no setor em Goiás. “A união entre as cooperativas será o alicerce para a propagação do cooperativismo”, aponta.
Michelle também destaca a importância de eventos como o Coomunica, onde os profissionais da comunicação podem trocar experiências e se alinharem às diretrizes do Sistema OCB/GO. “Eu gostei bastante. É muito interessante ver a integração de profissionais de marketing de diferentes cooperativas e poder aprender com eles”, comenta. Além disso, Michelle ressalta o papel da formação profissional e o impacto positivo de programas educacionais oferecidos pelo SESCOOP, como o curso de Gestão e Estratégia de Marketing que concluiu na ESPM.
Entrevista: Martha Gabriel
Em 2024, o destaque do 10º Coomunica (Encontro de Comunicadores de Cooperativas de Goiás) foi a palestra da futurista Martha Gabriel. Recentemente, ela lançou o livro “O Futuro é Coop”, no qual defende o cooperativismo como uma ferramenta essencial para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável no futuro.
No livro, a autora mostra que a cooperação é o caminho para alcançar a sustentabilidade, uma vez que promove inclusão, diversidade e renda. Confira abaixo a entrevista exclusiva com Martha Gabriel.
Desde a publicação do seu livro O Futuro é Coop, as novidades não param e alguns desafios têm aumentado, como a crescente intolerância no mundo. Mesmo com essas rápidas transformações, as ideias do livro ainda podem servir de ferramentas?
Essa transformação, na verdade, gera oportunidades para o cooperativismo. O cooperativismo se posiciona como um modelo sensacional para resolver problemas de sustentabilidade, focando na comunidade. Ou seja, é uma relação muito interessante de gestão de recursos e de vida. No entanto, os desafios continuam os mesmos, talvez um pouco mais acelerados. A tecnologia está em um ritmo insano, com a inteligência artificial (IA) e a robótica, por exemplo. Um dos grandes desafios para o cooperativismo é usar essa tecnologia no seu máximo potencial e aproveitar o que ele já faz bem. Outro ponto é a implementação das metas de ESG, desde as pequenas cooperativas até as maiores. Também existe o desafio da comunicação. Além do trabalho que o Sistema OCB já faz, cada cooperativa precisa se esforçar para divulgar e explicar o que é o cooperativismo, tanto internamente quanto para o público externo.
Na sua visão, quais são os principais diferenciais competitivos do cooperativismo?
O cooperativismo não busca o lucro pelo lucro, e isso é algo que as pessoas precisam entender. O cooperativismo é um negócio, sim, mas muita gente não sabe que ele é extremamente profissional. Precisamos destacar os sete princípios cooperativistas e revelar os cases de sucesso, porque há muitas histórias que só existem graças ao cooperativismo. Outro ponto importante é o tratamento do digital, que é muito complexo, com várias plataformas e inúmeras opiniões. É preciso encontrar a voz certa para comunicar o que realmente importa em todos os canais. Esse é um desafio não só para o cooperativismo, mas para qualquer negócio hoje em dia.
Alguns setores do cooperativismo têm mais dificuldade em demonstrar um caráter inclusivo, sustentável e transparente? Isso representa um risco?
Sim, isso é um risco. Eu sempre digo que, quando uma empresa falha, ninguém diz que o modelo de “empresa” é ruim ou que o empresário é incompetente. No cooperativismo, por ser algo menos compreendido, se uma cooperativa falha, a impressão que fica é que o cooperativismo como um todo não funciona ou não é profissional. O que me impressiona no cooperativismo é que todas as pessoas envolvidas são felizes e apaixonadas pelo que fazem. Precisamos mostrar isso para o mundo. Só o fato de demonstrar que quem está dentro do cooperativismo tem essa energia e que as coisas funcionam de uma maneira mais justa já é um diferencial enorme.
Você considera o cooperativismo uma revolução social, política e financeira? Isso está acontecendo?
Com certeza. Embora pareça algo novo, o cooperativismo é muito antigo. Ele foi criado para combater as injustiças da Revolução Industrial, quando as condições de trabalho eram extremamente precárias. Desde então, o que observamos? Nos últimos 200 anos, o número de pessoas consumindo e impactando o meio ambiente aumentou exponencialmente. Percebemos que, sem sustentabilidade, não vamos sobreviver. Nesse cenário, o cooperativismo surge como um modelo que perdura há 150 anos e que pode ser a solução. Eu acredito que o cooperativismo terá cada vez mais alcance porque ele é necessário. Quando o Uber chegou ao Brasil, muitos jovens diziam: “Que legal, economia de compartilhamento!”. Mas eu respondia que nem todo o dinheiro gerado pelo Uber fica aqui, grande parte vai para outro país. No cooperativismo, todo o retorno financeiro fica na mesma região. Portanto, ele atende muito melhor às necessidades atuais do que os modelos tradicionais de negócios.
Podemos dizer que o cooperativismo é uma evolução dentro do capitalismo?
Eu diria que ele vai além do capitalismo. O cooperativismo combina o melhor do capitalismo, do socialismo e das organizações não governamentais (ONGs). Ele está no meio-termo entre todos esses modelos, pegando o que cada um tem de melhor. Quando falamos de sustentabilidade, muitas vezes as pessoas pensam apenas no pilar ambiental. Mais recentemente, o pilar social também começou a ser valorizado, e ambos são fundamentais. No entanto, é preciso lembrar do pilar econômico, e o cooperativismo tem esse diferencial. Sem uma base econômica sólida, os outros pilares não conseguem se sustentar.
Poderia falar um pouco sobre o tema que abordou na sua palestra no Coomunica?
Eu falei sobre Inteligência Artificial, que é a tecnologia mais poderosa que temos atualmente. Para os profissionais de comunicação, essa é uma área que está passando por enormes transformações. O mundo em si é baseado em comunicação – religião, política, educação, tudo isso é comunicação e linguagem. Então, se você souber usar os sistemas inteligentes para melhorar sua comunicação, isso pode alavancar sua mensagem e fazer com que mais pessoas entendam o cooperativismo e se encantem por ele tanto quanto nós.